quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ESPETÁCULO


É o fim de mais um ato
E a cena se desfaz sem direito a reprises
Aqui são todos atores e atrizes
Num mesmo palco chamado mundo
E esse palco gira constantemente
Os personagens mudam
Porém são as mesmas histórias de sempre
E a paixão de atuar é momentânea
E a arte se torna tacanha assim como a vida
E a vida se torna insana assim como a arte
Enquanto a platéia covarde delira ao testemunhar a tragédia
Outros simplesmente se levantam silenciosamente e vão embora
E ninguém percebe mais uma ausência
Mais um lugar vazio
E o palco continua a girar
O espetáculo não pode parar!
Alguns saem de cena para sempre
outros entram, se apresentam e se retiram
Poucos permanecem do início ao fim
Talvez sejam os sobreviventes apaixonados
Que num dado momento do espetáculo
Deixa-se emocionar...deslumbra o respirar
Por alguns segundos o palco deixa de girar
E o ser humano não é mais apenas um personagem
Não é mais um papel
Esta despido de todas as técnicas
De todos figurinos, adereços e arquétipos
Ele é simplesmente ser humano
E o palco gira
Abaixam-se as cortinas
E que recomece um novo espetáculo!

sábado, 14 de novembro de 2009

COPACABANA


Hoje eu não andaria comportada e nem mesmo desconfiada a beira da praia
Eu correria de braços abertos em direção ao mar
Sentiria a areia a me perfurar
E de alma despida me atiraria no mar
Mesmo com chuva
Mesmo sem sol
Somente uma lua a iluminar
Hoje eu me entregaria ao mar
Como me entreguei a você
Hoje me afogaria sem mágoas,
Sem culpa, sem traumas

Ao som de Vínicius e Tom Jobim
Celebrando o mar
Reverenciando o amor
Hoje eu não quero lembrar
Que um dia não amei o mar
Que um dia o amor chegou ao fim.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ALERTA DE CLIO

A inspiração morre lentamente em tempos sem paixão...
Tempos que só refletem imagens e personagens sem ação
Vivemos a constante repetição e tudo parece em vão...
Os amores estão trancados em algum porão...
Enquanto há casas amplas e confortáveis vivendo sem amor...
Onde estranhos conhecidos dividem o mesmo teto
Pisam o mesmo chão
E os olhares estão mirando pra qualquer lugar
Sem rumo...sem direção
E ao narrar essa história inglória
Clio implora nessa hora
Que haja ainda poemas
Que o som da vida não seja calado
Que o clarão do dia não seja uma rajada de balas
Que nossa alma não seja mais crivada por espinhos
Que nosso caminho seja coberto por muitas flores
Por muitas cores, por muitos amores
Que a revolução das máquinas deixem de ser ensinadas
E passemos a ensinar a evolução das mentes, dos espíritos e dos corações!


domingo, 30 de agosto de 2009


Não vejo mais a vida como um plano a ser estratégicamente montado, nem mesmo encaro a vida como um longo sonho desfeito...

Apenas vejo que nada é para sempre, que nada é transitório, que nada pode ser tão retórico quanto filosofar inútilmente sobre a vida.

E se um dia alguém olhar nos seus olhos e dizer que vale a pena viver...é melhor não retrucar, é melhor não pensar e tão pouco acreditar.

O melhor a se fazer é simplesmente viver.

Viver filosofando de vez em quando, viver planejando inútilmente, viver sonhando eternamente..

Isso sim é viver...

domingo, 19 de julho de 2009

FICÇÃO

Aquela tarde e suas horas incansáveis
Entre o vagar do outono e a sujeição do incipiente inverno.
Em um cenário neoclássico com seus retratos em branco e preto
E nossos corpos como esculturas à procura de um acervo
E brindamos a arte de amar em outras taças
Provando as mentiras e as verdades de um vinho ainda mais doce
E o mundo naquele momento tinha algo de melhor
Quando senti a liberdade por um instante refletida em nós
E como adolescentes seguimos de braços dados pelas ruas de São Paulo.
Sem lembrar das responsabilidades...sem se importar com a sociedade.
E entre sons, mesas, um balcão e um espelho
Pedi em silêncio para o tempo parar naquele momento
Assim como pedi ao vento para não levar aquele outono
Mas as horas passaram e ainda passam
E o inverno segue o meu rastro
E tudo continua igual...
Os romances continuam inesquecíveis
E minha vida segue sem outono, sem romance...sem ficção...

terça-feira, 16 de junho de 2009

INVERNO

A paixão! Essa promessa sagrada que não cumprimos
É o pecado mais imoral que nos condena
Nesse mundo caótico organizado pela racionalidade triunfante.
Enquanto isso os anjos assistem este espetáculo tão dramático.
E meus olhos tentam desviar da cena de nudez protagonizada pela estação fria
Estação que nos faz companhia mesmo quando estamos acompanhados
Nossos desejos ainda ardem de solidão apesar dessa rotina submissa
Onde somos escravos do medo que nos subjuga e nos domina
Nessa lógica tão fria e tão distante de nossa essência.
Ao recriarmos uma realidade que compramos como sendo verdadeira
Como se viver fosse um plano perfeito, uma meta, um caminho em linha reta
Onde os mistérios seriam nada mais que delírios e ilusões de poetas apaixonados.
Invenções de poetas pecadores que oscilam e que vacilam
Ao buscar a paixão que o liberte desse mundo sem sentido
Quando movido unicamente pela razão.

domingo, 31 de maio de 2009

ESTAÇÕES

As estações perderam suas cores
Uma névoa cinza cobre tudo em volta
Não há nuances, não há matizes e nem contrastes...
Tudo que se vê são disfarces
A racionalidade inventa o amor incolor
Como se viver fosse um ato indolor
Eu quero viver...sentir...as dores, as cores, os prazeres
Eu quero simplesmente a paixão das estações
Sentir o calor que enlouquece
O frio que me enternece
E com você compor o mais lindo tom
E entre folhas e flores seremos a pintura mais imperfeita

sexta-feira, 15 de maio de 2009

LÍNGUAS A MINGUA

Língua...libido...liberdade...
Linguagens múltiplas
Em bocas argutas
Em bocas diminutas
Palavras soltas
E o grito preso
E corre a língua pelo corpo
Esgotando a saliva e os desejos.
Enquanto a língua se enrosca
Encosta-se e se enleia
Entre acordos ortográficos
E conflitos sem diálogo
O mundo se cala
O silêncio disfarça tantas vozes...
Língua: libido, liberdade – simbiose.

sábado, 25 de abril de 2009

DESERTO

Corpo:
Raiz...semente
Irrigado pelo amor
Cultivado e semeado pelo desejo
Hoje – só um corpo, uma casca
Fruto de uma alma ausente
De um olhar descrente
Que molha a terra infértil
Que percorre o deserto estéril
Assim como o cego
A procura do oásis na escuridão...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

DEVANEIO

Um devaneio de Sócrates
Um rascunho lógico de Pitágoras
Um traço geométrico de Picasso
Um sonho surrealista de Dali
Taciturna nas entrelinhas
Exaurida por sua poesia
Escrava da alma artista
Que vaga sem rumo...sem trilha
Na dialética obscura das palavras
No submundo indecoroso de sua vida...


quinta-feira, 19 de março de 2009

MONÓLOGO

Amor não mata
O amor não se mata
Não há homicídio que a causa seja o amor
Não há suicídio que o motivo seja o amor
O amor vive
Vive mesmo que morto
Vive mesmo que preso
No cárcere da solidão
O amor vive entre grades
Entre jardins, entre cercas e muros.
O amor esta nos becos mais escuros
Esta nos bares, nos lares,
O amor esta nos templos, nos guetos
No silêncio, no vento, na chuva
O amor esta perdido na rua
Esta entre as frestas, entre os vãos
Entre o intervalo do sol e da lua
Entre o antagonismo das sombras e das luzes
O amor esta entre a vida e a morte
O amor pode ser a vida
O amor pode ser a morte.




quinta-feira, 5 de março de 2009

SEGREDO


Era tarde
Mas não tão tarde
E o tempo esperava pacientemente
Tudo era novo
Tudo era antigo
Todo sentimento era possível
Nem todos eram permitidos
Cada passo dado era lentamente rápido
Cada gesto esteticamente desenhado
E a paisagem bucólica tinha um pouco de luz
Um pouco de cinza
Pintura carregada de melancolia.
E o clima se confundia com as lembranças
E se dispersava com a distância.
E meu olhar não arriscava encarar
E nada me faria parar de pensar
E as marcas que ficaram são bem mais profundas
A queda muito mais séria...muito mais brusca.
Sensação que incomoda, que perturba,
Por me tirar dessa vida de renúncias e de dúvidas.
És minha redenção, minha tentação...
Meu segredo jamais secreto
Convite tentador e pecador...
E eu não quero mais ser um desertor.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CRIME E CASTIGO

Um beijo roubado em uma tarde de sábado
E jamais minha boca cometeu um crime tão perfeito
E por mais que o tempo tente apagar esse tempo
E por mais que a vida tente me afastar de meus erros
Aquela tarde será sempre a minha tarde de sábado
Inesquecível inverno, inesquecível avenida, inesquecível beijo.
E a fonte e o jardim ainda são os mesmos...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

NOITE ENTREABERTA

A janela entreaberta
Desvenda a escuridão interna
E o quarto de portas trancadas
E de paredes incomodadas
Escondem a frieza, as lágrimas
As promessas quebradas
As paixões dilaceradas
E tudo permanece intocado
E quando penso em meu passado
Não há remorsos
Nem um final feliz
Só há uma cicatriz
E um olhar distante e triste
Que nada diz
E o pouco que se ouve
São só palavras
Quase todas inventadas
E não há quase nada aqui
Há não ser à noite austera
Que impõe sua presença
Doce e cruel sentença
Feita de saudade e de estrelas.

sábado, 17 de janeiro de 2009

POEMA EM HOMENAGEM AS MUSAS E DEUSAS IMPERFEITAS

O caos...início de tudo
Explicação de mundo
Na mitologia grega
Encontro entre céu e terra
E Eros celebra o enlace
E hoje sou a narradora
De todos os disfarces
Do mundo que é caos
Onde o amor é antagonista
E a acidez que toma essa poetisa
É causticante
Se é lamentável ou louvável?
Não sou capaz de responder com firmeza
Danem-se as certezas
A lucidez é a minha pior droga
E a loucura esta tão próxima
Que chego a me sentir normal por algumas horas
E é nessa hora que me sinto estúpida e limitada
Uma mera acadêmica redundante
Que observa e repara
Que pesquisa e analisa
Que aprende e ensina
Que tolice minha acreditar em tudo isso
Sou só um rascunho
Um rabisco inscrito na História
Histórias que escrevi, que vivi, que fingi
Se aprendi?
Não sei
A memória
Essa outra face da história
Só ela poderá dizer...


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

NADA DEMAIS

Nada demais...
E meus dias podem ser descritos como banais ou apenas como vividos.
E tudo e nada faz sentido enquanto me refaço e me desfaço diante os olhos atentos do tempo.
E sem promessas ou arrependimentos sou testemunha ocular dos meus erros e de meus acertos.
Nada demais...
E os dias são diferentes e ao mesmo tempo iguais, quando os pensamentos são cópias imperfeitas do real. E assim o natural se perde e a sensibilidade me esquece e me torno mais uma máquina a serviço da hipocrisia.
Nada demais...
Acordar e se espreguiçar sem olhar para o relógio e não ter que se lembrar que existe uma lógica e muito menos uma racionalidade em voga.
E ouço Chico e depois Vinícius e sem qualquer compromisso leio Clarisse...logo deito e fecho meus olhos como num ato de amor a mim mesmo e falo baixinho...
Nada demais...