quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CINZAS

Após dias e dias
Os anos se reproduzem
Eu vejo um colorido em tom de ferrugem
E as vozes que gritavam alegres e entusiasmadas
Agora as escuto roucas e suplicantes
E a dormência dos sentidos não é mais a mesma
A chuva que um dia me recebeu de braços abertos
Agora me abraça por inteira
Me pedindo para voltar ao mundo real
Para um mundo sem fantasias
Para desfilar sem saudade...sem alegorias
Mas a platéia parece ainda vibrar
Como se estivessem no mesmo lugar
Aguardando ansiosamente por mais um momento de glória
Por horas intermináveis de felicidade
E o sorriso nos lábios era meu estandarte
Porta bandeira e mestre sala eram nossos olhares
Iluminando tudo ao redor
Tornando-se indispensável o clarão de qualquer refletor
E assim era o meu carnaval restrito e particular
A idealização de um amor que coloquei em um altar
E do mais alto de todos os altares meu amor caiu
O sonho apoteótico se partiu
E todos os dias são iguais
Só existem muitas quartas-feiras
Todas elas pintadas de cinza
E não há anoitecer em nenhuma delas
E dessa realidade eu não posso acordar
E esse sonho apoteótico
Não posso mais sonhar.