domingo, 26 de dezembro de 2010

HOMENAGEM

Essa mulher pode não existir
Pode não ser de verdade.
Mas o que é a verdade?
Quando não se vive a realidade.
Essa mulher pode chorar
Pode esquecer
Mas nada vai mudar
Não há nada a perder
Essa mulher não ama
Ela não quer sofrer
E mesmo assim
A tristeza lhe acompanha
Essa mulher não quer partir
Ela não admiti ser feliz
A vida tem o dom de iludir
Mas ela ainda prefere fingir...
Mesmo não existindo
Ainda é uma mulher
Que decidiu simplesmente
Ser tudo o que não quer...



sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FOLHA EM BRANCO

Com você meus poemas não tinham a mesma beleza
A felicidade consumia palavras e inspiração
O mundo pedia a volta da poesia
Mas o poema respirava ofegante
O mais contemporâneo poema concreto
Criação de um amor incerto...
E o mundo venceu
A poesia não morreu
Retorna triste...bela
Como sempre deve ser
Em folhas em branco
E um vazio no olhar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ESTIAGEM

Fotografia de Magdalena Wanli - Fonte: Site 1000imagens

A viagem que me restou é tão abstrata e subjetiva
Que não arrisco aceitar guias
Nada me orienta nesse tempo de estações incertas
Tudo é vago
Tudo tão claro que cega
E por entre a névoa meu corpo me leva
Misturando minha matéria a paisagem
E tudo se dilui
Em um tempo sem estiagem.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MÃOS

Minhas mãos já construíram tantas sensações...
Que desmoronaram no primeiro sopro de realidade
E o vento nunca mais mudou de direção
Minhas mãos livres e inseguras agora estão vazias
Repartindo com o próximo o pão que não sacia
A promessa que nunca foi cumprida
A aliança que já foi vendida
A pedra que quebra finos cristais
Que trinca vitrais...
Que estilhaça vidraças
Quebrando encantos
Que acontecem uma única vez.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

ELA


Ela não tinha grandes ambições
Seus sonhos tinham perdido suas cores
O seu mundo era tecido de branco
Talvez fosse um pedido de paz
Ou quem sabe um vestígio de luz
Ela só deseja um amor de verdade
Assim como Eros e Psique
Não se pode viver sem amor...
Não se pode perder a esperança
E num gesto impensado
Ela entrega sua alma em troca de um poema
E a poesia se veste de branco
A alma se despe
Ela agora é você
Branca...nua
Poesia...sua!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

INVERNO DE SETEMBRO

O inverno de setembro é triste
Tão indefinido e arredio
Indizível e irrespirável
Incompreensível momento
Onde não há viagens longas e intermináveis
Não há ninguém à espera no desembarque
Assim são as manhãs de setembro
Entre o fim de agosto
No cair da noite
Eu não sonho, eu não durmo
Só peço o fim do inverno de agosto
E espero eternamente
A primavera de setembro

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

PARTIDA

Fotografia de Magdalena Wanli

Antes de partir quero dizer que morri sem acreditar no amor
E que nada fiz para mudar
Que o mundo não é nada do que sonhei
Que tudo que amei foi ilusão
E em todos que acreditei só tive ingratidão
Que no dia do meu aniversário eu só pedi para sair de mim
E não sentir mais nada
Nem mágoas, nem dores, nem remorsos
Tudo o que pedi foi coragem
Implorei pela bondade de Deus ou do Diabo
Não sei mais
Não vejo mais nada
Nada importa
Somente as horas
Que me apunhalam pelas costas
E não querem compreender
Que para mim já passou da hora
Desse suicídio me levar
Me elevar
E enfim...me abandonar!

domingo, 8 de agosto de 2010

FUGA

A fuga é inútil quando a alma esta encarcerada
A vida aprisionada se cala diante de tudo
Diante do mundo...
E a maior violência é o amor
A penitência mais cruel a saudade
E o tempo fecha suas portas
E o amor demora...
O amor não volta.

terça-feira, 13 de julho de 2010

IMPRESSIONISTA


Uma manhã de inverno
E as malas nem estavam desfeitas
E num cenário que lembrava uma tela impressionista
No café da esquina
Ou no parque em meio a avenida
Tudo era fascínio...
Descoberta...
Hoje a arte é minha única paixão
Somente ela me liberta...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CRIME

Ele foi assassinado por ter uma moto
Ele foi assassinado por andar a pé
Ele foi assassinado!!!

Ele foi assassinado por ter uma furadeira
Ele foi assassinado por não ter nada na carteira
Ele foi assassinado!!!

Ele foi assassinado por falar alto
Ele foi assassinado por ficar calado
Ele foi assassinado!!!

Ele assinou seu atestado de óbito
Quando nasceu negro
Por nascer escravo
Quando nasceu pobre
Por nascer sem sorte!

Por existir!
Ele foi assassinado!!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

REZE

Quando o mundo torna-se pequeno
Quando as pessoas encolhem
Quando os sentimentos são minimizados
Quando a alma esta quase invisível
A poesia mesmo que breve
Mesmo em poucos caracteres
Assim como uma prece
Ela sempre cresce...
AMEM

sexta-feira, 30 de abril de 2010

TABULEIRO

Mesmo apostando no ceticismo
Quando sou a mais vivaz jogadora do cinismo
Uma sorrateira esperança ameaça emergir
E nessa hora eu sou Isabella... e todas as outras...
Todas que um dia me disseram tantas inverdades
Todas que um dia aparentaram ser realidade
Mas a realidade é ilusão
E ilusão é invenção
Sendo assim não sou cética, não sou cínica
Sou só poeta...


terça-feira, 30 de março de 2010

CONTOS

Todos os dias escrevo contos fictícios para viver.
São histórias com uma única protagonista.
E uma coadjuvante a espera de um sinal qualquer...
E nesse diálogo distante, silencioso e vazio
Sou só uma contadora de histórias.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CINZAS

Após dias e dias
Os anos se reproduzem
Eu vejo um colorido em tom de ferrugem
E as vozes que gritavam alegres e entusiasmadas
Agora as escuto roucas e suplicantes
E a dormência dos sentidos não é mais a mesma
A chuva que um dia me recebeu de braços abertos
Agora me abraça por inteira
Me pedindo para voltar ao mundo real
Para um mundo sem fantasias
Para desfilar sem saudade...sem alegorias
Mas a platéia parece ainda vibrar
Como se estivessem no mesmo lugar
Aguardando ansiosamente por mais um momento de glória
Por horas intermináveis de felicidade
E o sorriso nos lábios era meu estandarte
Porta bandeira e mestre sala eram nossos olhares
Iluminando tudo ao redor
Tornando-se indispensável o clarão de qualquer refletor
E assim era o meu carnaval restrito e particular
A idealização de um amor que coloquei em um altar
E do mais alto de todos os altares meu amor caiu
O sonho apoteótico se partiu
E todos os dias são iguais
Só existem muitas quartas-feiras
Todas elas pintadas de cinza
E não há anoitecer em nenhuma delas
E dessa realidade eu não posso acordar
E esse sonho apoteótico
Não posso mais sonhar.

sábado, 16 de janeiro de 2010

HISTÓRIA DA ARTE


Você fala de amor como quem descobre a maestria da arte
És a artista que transforma o mundo, o pensamento, o olhar...
E essa genialidade fascina e paralisa o tempo
Nas entrelinhas do passado sou sua obra inacabada
Uma escultura de areia prestes a se desfazer
A tela crua e nua que anseia por viver
Entre cores e luzes que se misturam
E todos os sentidos se entregam ao lúdico
E nessa sua arte sou matéria, inspiração, invenção...
A genuína arte abstrata que não requer qualquer explicação
...


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ESSE SILÊNCIO


Eu ainda lembro daquele silêncio...
O silêncio capaz de transpor a distância
Capaz de dizer tantas coisas
O silêncio capaz de intimidar o próprio tempo
Capaz de inibir qualquer poeta
Com sua habilidade discursiva, intensa e viva sobre a paixão
Em tempo real, êxtase único
Amor platônico e carnal
Transcendência surreal de nossa essência
Experiência sensorial conduzida ao ritmo do silêncio
Entre incensos, cigarros e espelhos
O prazer alcançado no silêncio
E meus pensamentos ainda ouvem aquele silêncio
Meu corpo ainda pede pelo silêncio
E minha alma será para sempre entregue ao total silêncio.